biaarantes Aeroporto em meio a uma pandemia e uma mulher chora. Chora muito. Copiosamente. É um choro com barulho, desses em que se falta o ar e o mundo ao redor não existe mais. Já sentiu isso? Uma dor que não dá pra controlar. Uma dor que foge do comportamento social, não se pode disfarçar quando somos esmagados por um elefante de existência. Uma dor que suga completamente a sua razão.
Penso que alguém se foi. Penso em quem eu poderia perder para me sentir daquele jeito. Porque eu já perdi alguém e já me senti daquele jeito. Lembro de perder o movimento das pernas, do peito querer ir de encontro ao chão. Desconhecidos tentando me ajudar e nenhuma palavra saía da minha boca. Se eu as proferisse, aquilo seria real e eu não queria que fosse. Tudo em volta fica lento, você visita um purgatório no que acha que é a realidade.
Mas bobagens passam pela minha cabeça também. E se aquela mulher teve problemas com um vestido de noiva que foi extraviado e era a gota final pra arruinar um casamento que já havia perdido tanto e que quase não acontecera? É isso. Há situações assim aos montes. Achamos que é importante demais e depois passa. Tomara que ela só tenha perdido um vestido e que ainda possa rir desse momento um dia.
A dor de perder alguém nunca se transformará numa lembrança boba. Nunca.
Depois de muitos contratempos, consigo pegar o vôo...O olhar das pessoas mudou muito: agora elas se olham como se a presença do outro fosse uma ameaça à sua vida.
Penso então no quanto somos primitivos e maquiamos esse comportamento ao longo dos anos. Civilidade. Existência. Consciência. Uma maquiagem muito pobre, já que o que nos move, continua intocado. O desejo pelo poder, sexo, prazeres...ou a busca de um significado pra se estar vivo. As dores mais latentes também, essas não se maquiam.
Dormi muito pouco, mais uma vez. Penso em descansar no vôo, me ajeito pra um cochilo. Fones de ouvido, e dessa vez ignoro meu livro. Fecho os olhos e respiro fundo, peço gentilmente que meus pensamentos me deixem em paz.
(Continua...)